Em memória do Manoel Ademaro Duarte de Almeida

Naquele dia triste e plúmbeo do mês de novembro de 2022 a notícia chegou rápida e brutal e parou a nossa respiração: Manoel Ademaro faleceu! Tinha 88 anos.
Apoderou-se nesse momento dos seus amigos o pavor incrédulo da visitação da morte e realizou-se, mais uma vez, o fascínio e o enigma do homem como navegante condenado à errância da viagem sem retorno. Mas ele nunca foi verdadeiramente embora e está de volta nesta memória que recorda a sua ausência e cumpre indeclinável dever de memória que um inexplicável silêncio tem contrariado.
Foi difícil pensar um mundo sem ele, pois um mundo sem ele não é o nosso mundo, é um mundo diminuído onde falta o gesto terno e elegante, compassivo, o olhar profundamente longo e humano desse homem que tivemos a felicidade de conhecer de perto.
Deixou um legado de grande humanismo. Uma vida feita de coragem e integridade mas também de harmonia, leveza e prazer de estar com os amigos. Existe em Manoel Ademaro uma personalidade esplendorosa e culta e uma obra que foi realizada na flor da idade e a quem os deuses, por muito o amarem, o chamaram para planos superiores e o acarinham e agasalham agora.
Manoel Ademaro era uma pessoa fraterna, generosa e sempre presente, desde o furioso incêndio juvenil de aluno do Colégio de Lamego, essa lendária instituição de ensino, ao crepuscular fogo da sua vida, ameaçado já pela doença. Perdeu-se uma vida onde os meandros subtis dos sentimentos o relacionavam com os colegas e onde pairava uma atmosfera de magia e encanto que servia de alimento a todas as grandes amizades que fez na vida.
Manoel Ademaro amou intensamente os seus colegas, o colégio de Lamego, o velho casarão da Ortigosa, o seu patrono, D. Vicente Moraes Vaz, o maior e mais conspícuo diretor que o colégio teve, artista supremo, com os mais belos saraus que o colégio e a cidade de Lamego tiveram a seu tempo.
A personalidade que perdemos, Manoel Ademaro, o nosso amigo mais íntimo, não se pode medir, mas podemos lembrar o que nos deixou, o olhar atento sobre a importância de “nós” como participantes da vida de outros; O olhar poderoso atento sobre as coisas simples e os momentos, ainda que breves, que podem transformar o trivial em excecional, a emoção pela observação o envolvimento crítico pelo amor, a responsabilidade pela consciência: as celebrações que dão razão à vida; a família e compromisso dos rituais que a ligam e guiam a vontade de encontrar em cada dia um pretexto de estar vivo, vivendo em intimidade das relações que criamos com as pessoas, os lugares e os objetos que rodeiam a nossa vida.
Manoel Ademaro ensinou-nos a ser mais na aprendizagem de vida, pela liberdade.
J. A. Rocha
Antigo aluno